Câmara do Recife recomenda adiamento de eventos do Carnaval promovidos pela Prefeitura

Câmara do Recife recomenda adiamento de eventos do Carnaval promovidos pela Prefeitura

Instalada na Câmara Municipal em 30 de novembro, a Comissão Especial sobre a Retomada do Carnaval, São João e demais Grandes Eventos promoveu nesta quarta-feira (22) uma reunião para divulgar o relatório preliminar resultante de uma série de diálogos sobre o tema. O documento, que reúne dados e contribuições de representantes de diversos setores da sociedade, sugere que a Prefeitura adie a realização e o patrocínio de eventos do Carnaval, recomendando que eles sejam promovidos quando o município ultrapassar os 90% de imunidade coletiva contra a covid-19. Presidido pelo vereador Marco Aurélio Filho (PRTB), o grupo também indicou a transferência do feriado de Carnaval para um período posterior ao da ocorrência sazonal de doenças respiratórias típicas de cidades tropicais.

A divulgação do relatório ocorreu de forma híbrida, por videoconferência e com a participação de parlamentares presentes no plenarinho da Casa de José Mariano. Ao dar início à apresentação, Marco Aurélio Filho frisou que a Comissão trabalhou intensamente para formular as sugestões antes que a Prefeitura tomasse uma posição a respeito dos festejos. “Foi um trabalho árduo da Casa de José Mariano, de muita dedicação e comprometimento, feito em menos de 20 dias”.

Intitulado de “Vozes”, o relatório dá atenção especial à participação de representantes de quatro eixos de participantes que debateram o assunto com os vereadores: o artístico-cultural, o econômico, o sanitário e o da articulação interlegislativa com parlamentares de outras cidades que sediam carnavais de grande porte.

O documento também enfatiza contribuições científicas como a da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Inicialmente consultada pelos municípios do Rio de Janeiro e de Salvador, a entidade estabeleceu um “cenário ideal” para a realização segura do Carnaval, como a taxa de vacinação mínima de 80% no Brasil, no Estado e no município-sede. Os indicadores levam em conta, também, fatores como a média móvel semanal de casos de síndromes respiratórias, o tempo de espera e a quantidade de pessoas na fila para internações no município, taxas de contágio e a porcentagem de diagnósticos positivos para covid-19.

Na reunião, Marco Aurélio Filho explicou que a decisão pelo pedido de adiamento ocorreu porque ainda há um caminho a percorrer até atingir os índices do “cenário ideal”. Além disso, como o Carnaval coincide com o período anual de aumento de doenças respiratórias sazonais no Recife, há o risco de sobrecarga do sistema de saúde. “Neste momento, compreendemos que não tem como fazer a festa do Carnaval como nós a conhecemos, uma festa democrática e, sem sombra de dúvida, a maior festa de Carnaval do Brasil. Entendemos que o mês de fevereiro não é o momento ideal. Pedimos que ele seja posterior a esse período de sazonalidade de doenças respiratórias. O período de fevereiro é, por coincidência, em que temos grandes crises de doenças infecto-respiratórias no Recife”.

No total, o relatório elenca 11 recomendações à Prefeitura. Além do estabelecimento de um índice mínimo de vacinação de 90% na capital e do adiamento do feriado e dos apoios a festas, temas como passaporte vacinal, ampliação do Auxílio Municipal Emergencial (AME), incentivos a artistas locais nos equipamentos públicos e em festas privadas não ficaram de fora. Os vereadores frisaram, ainda um pedido de garantia de “que não haja qualquer tipo de segregação carnavalesca”, em alusão à permissão de festas de Carnaval privada enquanto os festejos de rua estão limitados.

“Entendemos que o Carnaval tem que ser democrático, como a gente conhece. Não podemos fazer com que o nosso Carnaval perca a sua essência e ser injustos com os nossos fazedores de cultura”, disse Marco Aurélio Filho. “Não é simplesmente sobre a realização de uma festividade ou não, mas sobre a manutenção da nossa cultura popular, sobre a salvaguarda dos nossos patrimônios, dos nossos artistas e da nossa identidade cultural”.

Vereadores integrantes da Comissão e outros parlamentares que acompanharam os trabalhos do grupo não deixaram de tecer considerações sobre o relatório durante a reunião. O primeiro deles, o vereador Ivan Moraes (PSOL), afirmou que o documento foi feito de consensos formados a partir de visões diferentes sobre a promoção da festa. Ele abordou os limites do Executivo municipal em relação à festa – uma vez que as proibições são decisões do Governo do Estado –, se manifestou contra a “privatização” do Carnaval e defendeu o apoio aos fazedores da cultura.

“Além da saúde, o nosso objetivo é a manutenção do Carnaval e dos seus protagonistas. Entendemos a importância do Carnaval como folguedo popular, expressão da nossa identidade e importante elemento da nossa cadeia econômica. As pessoas, agremiações, coletivos, troças, blocos e clubes precisam existir independentemente da possibilidade de estar na rua ou não. Não vamos admitir que o Carnaval seja apenas privatizado”, pontuou Moraes.

Já o vice-presidente do colegiado, o vereador Alcides Cardoso (DEM), recuperou os passos dados pela Comissão – e defendeu o empenho da população para a chegada ao “cenário ideal”. “Ouvimos artistas, o eixo econômico, o eixo médico, vereadores de outras cidades. Por fim, fizemos uma audiência pública com a Prefeitura. Cumprimos com o que foi prometido, que era terminar o mais rápido possível esse relatório preliminar. É importante que tudo seja falado baseado na ciência. A população ajuda muito se vacinando com a segunda dose e com a dose de reforço”.

O vereador Chico Kiko (PP) afirmou que a responsabilidade com a vida dos recifenses foi o mérito principal do relatório. “Em pouco tempo, esta Comissão deu resposta tanto a quem realmente queria que o Carnaval acontecesse quanto a outros que não queriam que o Carnaval aconteça. Fizemos várias reuniões e isso foi muito importante para darmos um parecer preliminar para ajudar tanto o Governo Municipal quanto o Governo Estadual a tomar decisões concretas baseadas em profissionais da área. A gente tem que brincar um Carnaval com segurança para a gente não chorar lá na frente”.

Tadeu Calheiros (Podemos) disse que a Comissão Especial desenvolveu um trabalho baseado na democracia e na construção do consenso. “Esta é uma Comissão em que podemos sentir o espírito mais democrático que norteia a atividade parlamentar. Havia várias visões na formação desta Comissão e que foram se aproximando, chegando a um consenso. O consenso só é construído no exercício da escuta. Primeiro, com uma condução democrática e ativa. E, segundo, quanto todos ali estão dispostos ao bem comum. Construímos um relatório equilibrado e responsável, porém firme, contundente. Ele pode embasar não só o nosso governo municipal, mas vários municípios. Hoje, a Casa de José Mariano sai maior”.

A vereadora Ana Lúcia (Republicanos) foi outra parlamentar a salientar a capacidade de diálogo dos membros do grupo. “O brilhantismo desta Comissão está, justamente, na capacidade de diálogo. Ela foi capaz de trazer diversos atores, ouvir os contrários e os que estão trazendo as suas angústias, os que produzem a cadeia cultural, a saúde. Com diálogo, o risco de errar é muito menor. Quando você dialoga, tem a capacidade de aglutinar falar, ainda que o resultado não seja o esperado por todas e todos”.

Por sua vez, o vereador Eduardo Marques (PSB) deu um relato sobre o bom funcionamento dos trabalhos da Comissão. “Eu tive o prazer de acompanhar o trabalho de todos vocês e pude ver que não se deixaram influenciar por uma ou outra opinião. Ouviram toda a sociedade, procuraram vereadores de outras cidades. A Câmara do Recife está de parabéns pela Comissão e pelo trabalho dos vereadores que atuaram de forma direta e indireta para o seu desenvolvimento. Eu me sinto muito honrado de me sentar ao lado de todos vocês, grandes mulheres e homens públicos que têm o povo do Recife em seus corações e o desejo de ver dias melhores para a nossa cidade”.

O líder da oposição na Câmara, Renato Antunes (PSC), observou que a Comissão Especial cumpriu a missão assumida quando foi criada. “Uma das minhas preocupações era que a Comissão apresentasse o relatório em tempo hábil para que a Câmara desse a sua parcela de contribuição. E hoje, antes de o Executivo se pronunciar, a Casa encaminha aquilo que ela ouviu da sociedade. É um relatório que vai levar embasamento para que o Executivo tome as suas decisões. Hoje, a Câmara entrega um relatório com substância e com o DNA da pluralidade dos vários segmentos escutados”.

O relatório preliminar da Comissão Especial sobre a questão do Carnaval foi entregue à Prefeitura ainda nesta quarta-feira, em uma reunião com membros das secretarias de Governo, Planejamento, Saúde e Cultura, além da Fundação de Cultura do Recife.

Foto: divulgação.

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