Cidadã faz post chamando amigos à praia e recebe três intimações da Polícia Civil de Pernambuco

Uma cidadã chamada Lana Valentim fez um post no Facebook convocando os seus amigos para irem à praia de Boa Viagem no dia 07/06, às 10h. A cidadã observou que o decreto do Governador de Pernambuco, Paulo Câmara, permitia que as pessoas realizassem atividades de pesca artesanal e profissional, e resolveu utilizar esse instrumento de pedir que os amigos fossem com vara de pescar à praia como forma de protesto contra a forma como o governador vem conduzindo a quarentena e a reabertura.

Para sua surpresa, ela foi alvo de três intimações pela Polícia Civil de Pernambuco no mesmo dia. Ela afirma que se sentiu constrangida por ter sido intimada a comparecer à delegacia e chamou o ato de “Lei da Mordaça”.

Não é a primeira vez que o Governo de Pernambuco reprime tentativas de manifestações contrárias à quarentena no estado, mas o Pernambuco em Pauta desconhece qualquer intimação de lideranças que têm convocado atos “antifa” na cidade.

Vejam o depoimento de Lana Valentim ao Pernambuco em Pauta:

“Quando eu li o decreto do dia 31/05, agora há pouco, eu fiquei transtornada, na verdade, extremamente chateada com essa permanência [da proibição] das praias, do direito do cidadão de ter 30, 40 minutos pra ter sua vitamina D, pra recarregar suas energias. Porque, como graduanda em psicologia, inclusive, fazendo uma pesquisa científica sobre os danos sobre a saúde mental, sobre as informações como a mídia está colocando, e os impactos disso na saúde mental das pessoas, uma pesquisa que está sendo conduzida junto com a Faculdade Pernambucana de Saúde, diante de tudo isso, da minha responsabilidade de cuidar das pessoas, o que eu imaginei, “gente, o que é permitido para se ir na praia? É ter vara de pescar? Então, vamos fazer esse movimento, todo mundo pega sua vara de pescar, vai pescar na praia, tem seus 30, 40 minutos de sol, e com isso vai, automaticamente melhorar sua imunidade do corpo e resolver as questões da mente, desse sofrimento psíquico adoecedor proveniente desse processo de confinamento. Então, isso foi o que me motivou a levantar [essa causa]. E aí, as pessoas que tiveram essa ideia fantástica fizeram um post dizendo assim: “movimento de paz e de ordem, pela reintegração de posse da praia, a praia é nossa, pela saúde mental das pessoas, pela nossa liberdade”. E a coisa foi tomando uma proporção gigantesca, até porque as pessoas estão adoecidas. Essa decisão, sem nenhum processo científico de como conduzir essa situação, está adoecendo as pessoas. Então nós temos um nível de estresse absurdo, as pessoas estão adoecendo, o nível de suicídio aumentou, de violência doméstica aumentou, da ingestão de drogas também, e isso gera violência, isso gera uma série de processos, que estamos vendo e todo mundo de braços atados, amordaçados. Eu disse, “não, eu vou tentar ajudar as pessoas, eu vou falar pelo menos o que eles podem fazer pra ter um pouco de qualidade de vida”. Nós temos uma riqueza, que é o mar, a água salgada é muito importante, você renova, e, consequentemente a tua imunidade vai lá pra cima. E aí, quando você tem todo esse movimento pra ajudar as pessoas, você é intimidada. Eu recebi hoje, de manhã, três policiais na minha porta, agora mais três, agora no final da tarde, pra trazer a mesma intimação. Foram levar a intimação na casa da minha mãe, que eu não moro na casa da minha mãe há mais de vinte e cinco anos. Então, ela sim é do grupo de risco, ela cardiopata, com marca-passo, recebeu a intimação pra que eu vá comparecer à delegacia. Realmente, é surreal. Eu que sou uma cidadã de bem, que pago meus impostos, que busco ajudar as pessoas através da orientação da melhor forma possível, né, até nesse momento ajudando com o quê?, com aconselhamento pra a gente poder sair dessa situação, me vejo constrangida com intimação a delegacia. Nunca isso aconteceu na minha vida: 46 anos ser intimada a comparecer à delegacia sem ter feito nenhum tipo de crime. Então é surreal, realmente é desesperador ver onde nós estamos chegando, é a lei da mordaça.”, disse Lana Valentim.