Não, Átila, Nenhum Autoritarismo é Necessário

Não, Átila, Nenhum Autoritarismo é Necessário

Por Artur Brilhante, em artigo enviado ao site.

Átila Iamarino, famoso divulgador científico, publicou um artigo polêmico intitulado “Autoritarismo Necessário”. Ele defende que as Fake News e a desinformação só podem ser interrompidas com a censura consciente de certas ideias e que ou censuramos, ou teremos que aderir a uma vacina compulsória. 

Pois bem, Átila, as coisas não são bem assim.

Em diversos países a censura a certas ideias é definida por lei, não é novidade. Entretanto, convenhamos que é totalmente desproporcional e incabível igualar fake news com nazifascismo. Ultraja nossa inteligência e desonra as vítimas desses regimes totalitários.

Além disso, não é só o fascismo que se utiliza de notícias falsas, como você bem gosta de lembrar, Átila. Ironicamente, qualquer autoritarismo se utiliza delas, não importa o lado. Também políticos ditos democráticos: a eleição de 2018 é o maior exemplo, incluindo todos os lados. É bom lembrar que nas eleições anteriores já havia Fake News em grande quantidade, mas, felizmente não em escala industrial como acontece hoje. 

Eu sou da área de economia, que é cheia de intrigas internas e discordâncias. Políticas econômicas erradas podem ser catastróficas, mas nem por isso nós propomos censurar certos absurdos que são propagados, muitos de Brasília, é bom lembrar. Isso, meu caro, é fugir do debate. E a Academia só tem feito isso, não entre ela, é claro. Entre ela, há numerosos debates de portas fechadas, com pomposos discursos e jantares inteligentinhos dos soviéticos de Harvard, como diria Pondé e Nassim Taleb. 

Mas o fato é que a academia tem fugido das massas, é separada do povo e sempre foi assim. Não é à toa que discursos anticientíficos estejam em alta, o próprio ambiente acadêmico e os cientistas cultivaram isso. Você, como divulgador científico, Átila, deveria saber melhor do que ninguém.

Recentemente, Tucker Carlson, comentarista da Foxnews, disse que a democracia só se mantém com credibilidade e que cabe aos governantes restaurá-la e não censurar os discursos contrários. Da mesma forma, o mesmo se aplica. É a ciência e seus divulgadores que devem nos convencer, e não ditar a informação que recebemos.

Abrir precedente para isso é perigosíssimo. “Autoritarismo necessário” é o discurso utilizado para endurecer ditaduras ou começá-las. “Precisamos dar um basta à contrarrevolução”, dizia-se na reunião que definiu o AI-5. Hoje, não chega a tanto, ainda bem, mas está chegando. Esse dilema que você tanto fala sobre censurar o contraditório já está sendo definido. Não por nós, nem pelos governos, muito menos pelos filósofos que escreveram os livros que você citou, mas pelas Big Techs. E a liberdade está perdendo feio, com direito a apoio da mídia tradicional.

Quem vai definir o que é ser bem informado? Quem vai escolher o que vai ser publicado? Quem vai ter o poder de censurar? No nosso mundo, não será o Ministério da Verdade, como no livro 1984, mas um bilionário que os comunistas chamarão de opressor e os fascistas de judeu. No nosso contexto, de extremos, publicar um artigo com essa entonação, é, no mínimo, irresponsabilidade.

Mas fique tranquilo, Átila. Isso não descredibiliza a ciência. Isso só compromete você como divulgador científico.

Foto: reprodução/YouTube.

Artur Brilhante é estudante de economia da UFRPE.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *