Opinião: Da Crise ao Caos, O Porquê Devemos Esperar o Pior

Opinião: Da Crise ao Caos, O Porquê Devemos Esperar o Pior

Por Artur Brilhante*

Nessa semana, saiu a queda do PIB que houve no primeiro trimestre de 2020. Com a marca de -1,5%, voltamos aos patamares de 2012 e, sendo realista, podemos já afirmar que tivemos uma nova década perdida. Acredito que não haja a necessidade de explicar os motivos da queda, a não ser que você viva em uma caverna, você chega nas óbvias conclusões. O ponto chave da questão é que essa recessão é diferente das outras que tivemos ao longo da história.

A Covid-19 virou o que temiam que a H1N1 poderia se tornar e o único paralelo minimamente comparável é a Gripe Espanhola, que assolou o mundo durante as primeiras décadas do século XX. Diante desse cenário, as autoridades públicas adotaram o polêmico isolamento social, mas o ponto do artigo não é saúde pública. Qual é a consequência econômica da pandemia e do isolamento social? Ora, a queda generalizada do consumo. Se as pessoas estão receosas com uma doença, se expõem menos e consomem menos. Com o tranca rua, esse efeito é planificado para toda a população. Assim, com o consumo em baixa, automaticamente o PIB é puxado para baixo e é gerada a recessão.

Nesse contexto, temos um exemplo comparável na nossa história recente: a greve dos caminhoneiros de 2018. Nela, o país inteiro parou durante alguns dias e, apesar de gerar repercussões negativas consideráveis no PIB, não foi uma preocupação para o Governo em termos de mortes de CNPJs, pois o tempo da greve foi curto o suficiente para que não chegasse a esse ponto. Na pandemia, a situação é exatamente a contrária. A verdade é que não existe prazo confiável para a vacina. Dessa forma, empresas quebram, a produção cai, o desemprego aumenta e nosso Produto Interno Bruto despenca. O Governo da República não é burro. Veja, o auxílio de R$600,00 não é somente para gerar condições mínimas de vida a quem precisa, mas também manter o consumo e não piorar a situação em que estamos. É claro que a consequência fiscal gerará problemas seríssimos no curto, médio e longo prazo, mas esse é um assunto para outro texto.

Junto com o auxílio, o Governo lançou mão de outro programa para evitar uma situação catastrófica. O Programa Emergencial de Suporte a Empregos (PESE) disponibilizou 40 bilhões de reais do Tesouro Nacional e dos Bancos para financiar salários e manter empregos. Aliado a polêmica MP 936/2020, que reduz salários e jornadas de trabalho, o PESE era a espinha dorsal do plano do Governo de transformar a pandemia o mais próximo possível de uma grande greve dos caminhoneiros, fazendo que o formato da curva do PIB se aproximasse de um V estreito. Isso porque na época ainda se acreditava que o tranca rua iria durar cerca de três meses, baseando-se na experiência da China.

Bem, o plano falhou em dobro. A pandemia está correndo sem previsão de fim e a Federação assumiu que o PESE foi um fracasso. O fracasso do PESE tem diversos motivos, mas é claro: dos 40 bilhões disponíveis, foram usados somente 1,6 bilhão, ajudando 1,1 milhão de trabalhadores. Resultado? Somente no mês de abril, foram cerca de 860 mil demissões de carteiras assinadas. Em 2015 inteiro, pior ano da recessão, esse número foi de 1,1 milhão. É claro que, diante dessa situação, estão correndo atrás do prejuízo através de ajustes nos programas.

Além disso, não tivemos tempo de fazer reformas suficientes, as quais seriam o motor do crescimento no Governo Bolsonaro. Ademais, a recessão ocorre no mundo inteiro, dificultando uma recuperação mais rápida baseada na bonança externa. Para finalizar, a vacina mais próxima tem previsão para setembro. Se ela realmente funcionar e se admitirmos arbitrariamente um intervalo de quatro meses para que se consiga produzir para o mundo inteiro, somente em janeiro do ano que vem poderemos voltar a vida normal. Não podemos ser cegos e deixar de ver que estamos em uma situação mais séria do que a mídia vende.

Quero que você, leitor, compreenda que meu objetivo não é fazer anúncios apocalípticos e catastróficos, mas sim conscientizar. Existe, sim, chance de sairmos relativamente bem dessa, mas os dados indicam que vai ser difícil. Não é hora de compras desnecessárias ou planejamento de viagem. Não é hora de achar que estamos seguros. É hora de pensar bem no que gastar e sermos cautelosos. Para proteger a nós mesmos e nossas famílias, devemos torcer pelo melhor, mas esperar pelo pior. Da crise ao caos, o passo é pequeno.

*Artur Brilhante, estudante de Economia da UFRPE.

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